RESUMO DE GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA
Resumo do texto GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
terça-feira, 21 de julho de 2020
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Ginástica Geral e Olímpica - Prof. Marília de Campos Ferreira Terminologia da Educação Física e da Ginástica Ginástica Geral – Professora Drika
ELEMENTOS
CORPORAIS –HABILIDADES MOTORAS BÁSICAS
Segundo Gallardo (1997), existem
várias classificações de habilidades motoras, cada uma delas com um objetivo
específico de estudo.
Abaixo estão abordadas as
habilidades específicas relacionadas ao trabalho desenvolvido na disciplina. A
classificação pode ser assim dividida:
•
Quanto
à precisão do movimento: habilidades de locomoção, não locomoção e manipulação.
•
Quanto
à forma de execução; habilidade básica (discreta), seriada e especial
(contínua).
•
Quanto
à complexidade de tarefas: tarefa altamente complexa e de baixo índice de
complexidade.
De acordo com Barbanti e Zílio
(1994) a habilidade motora é conceituada como atos ou tarefas que requerem
movimento e devem ser aprendidos a fim de serem executados corretamente.
Pode-se conceituar também a
habilidade motora como uma qualidade de desempenho envolvendo uma sequência
organizada de movimento.
É considerada uma ação complexa e intencional
envolvendo toda uma cadeia de mecanismos, através do processo de aprendizagem.
De um modo geral se divide em:
•
Locomoção:
são os movimentos básicos que possibilitam ao corpo se deslocar de um lugar
para outro no espaço, por exemplo: andar, correr, saltar, saltitar, rolar,
etc...
•
Manipulação:
são os movimentos básicos que envolvem o manejo de objetos, por exemplo: lançar,
receber, chutar, quicar, atirar, etc...
•
Não
Locomoção: são os movimentos básicos que podem ser executados em espaço
simples, sem movimento da base de apoio ou sem a intenção de se deslocar de um
lugar para o outro no espaço, por exemplo: flexão, extensão, giro, circundução,
balanceio, rotação, etc...
PRÁTICA
PEDAGÓGICA
Segundo Leguet (1987):
“Não querendo interferir nos métodos
ou estratégias na prática, cada professor tem sua personalidade, suas
convicções”... considerando os problemas motores como secundários relativamente
aos objetivos... (p54).
Entende-se por prática pedagógica a
ação do professor empregada na aula, observando o número de alunos, espaço
físico, nível de aptidão e heterogeneidade dos alunos. Onde se lê problema
motor, traduz-se uma limitação particular de cada aluno, que expressa falta de
vivências anteriores ou estímulos, sendo assim, a prioridade do professor não
ser a performance do alto nível e sim, a melhoria as aptidões. Baseado nisto,
cada professor estabelece sua estratégia de trabalho.
Esta estratégia e metodologia,
relacionadas ao objetivo específico devem ser desenvolvidas a partir da
sensibilização do professor com relação ao interesse dos alunos, motivação,
criando condições de ambiente, solicitando e permitindo vivências e ações
motoras diferenciadas, respeitando as expectativas de cada aluno.
Com relação às condições de
ambiente, o professor deve:
•
Variar
os materiais,
•
Variar
a forma de utilização dos materiais,
•
Variar
o estímulo,
•
Instruir,
sinalizar, questionar,
•
Estimular
a ajuda, cooperação e auxilio.
A prática pedagógica para Hostal
(1982) permite a descoberta do corpo por meio de situações diferentes da
habitual.
...exercícios que se baseiam em uma
análise prévia do gesto e que permitem melhor domínio corporal, que pela
prática de exercícios de forma fixa
(ginástica e dança), quer pela prática de atividades de expressão que favorecem
a criação pessoal (mímica expressão-coroporal, dança livre). Em ginástica, o
corpo se encontra geralmente em situações e em posições incomuns. É o momento
de dominar os elementos sócios afetivos. A ginástica nos ensina a enfrentar
progressivamente, a partir de situações seguras, situações mais perigosas, a
lutar para vencer sozinho a dificuldade do problema proposto (p.10).
Para o autor a prática pedagógica em
ginástica visa, o desenvolvimento geral dos aspectos relacionados à educação
(social, afetivo e cognitivo).
A ginástica favorece situações motoras
variadas relacionadas às modalidades e outras atividades esportivas aonde
progressivamente vai educando o gesto motor. Onde se lê situações perigosas
deve-se entender situações não habituais e desconhecidas para o aluno; em
relação à frase “lutar para vencer sozinho” pode-se entender como uma busca da
melhoria individual de suas ações motoras.
ELEMENTOS
CORPORAIS –CAPACIDADES FÍSICAS
É uma qualidade geral de um
indivíduo, relacionada com o desempenho de uma variedade de habilidades
motoras, sendo um componente da estrutura dessas habilidades.
É um conjunto das possibilidades
motrizes naturais e adquiridas, mediante as quais se podem realizar esforços
distintos.
A eficiência nos movimentos
corporais que se realiza nos conteúdos da Educação Física, as danças, os
esportes, os jogos, as lutas, e etc.., e até dos movimentos realizados no dia a
dia, depende do desenvolvimento as habilidades corporais, as chamadas
capacidades físicas.
Uma das funções da Educação Física
Escolar é desenvolver as capacidades físicas: coordenação, flexibilidade,
força, potência, velocidade, agilidade, equilíbrio, resistência, ritmo,
alongamento.
Abaixo estão descritas as qualidades
físicas.
COORDENAÇÃO:
É a integração do sistema
nervoso central e da musculatura esquelética em um movimento ou em uma
sequência de movimento.
O movimento está integrado aos
comandos mentais, é um processo que envolve reflexão/ação. Coordenação motora
associa corpo e mente.
A coordenação envolve uma ação
simples como andar com outras mais complexas como realizar a roda (estrela).
FLEXIBILIDADE:
É a qualidade física responsável pela execução
voluntária máxima por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos
limites morfológicos, sem risco de provocar lesão”. (Dantas, 1995,p.33).
É a propriedade motora que permite
realizar movimentos em nível articular, estruturalmente a flexibilidade depende
dos músculos, tendões, ligamentos, cápsula articular, estrutura óssea e pele
que são fatores limitantes.
Segundo Zílio (1994), a flexibilidade pode ser
dividida em:
a)Flexibilidade
Ativa: quando a ação sobre determinada articulação é exercida por forças
internas do próprio indivíduo.
b)Flexibilidade
Passiva: quando a ação sobre determinada articulação é exercida por forças
externas ao corpo do executante, como um auxiliar, pesos ou outra forma de
auxilio.
A
flexibilidade envolve a mobilidade articular (movimento das articulações)
e a elasticidade muscular:(alongamento
dos músculos).
FORÇA: “É a habilidade de um músculo ou
grupamento muscular de vencer uma resistência, produzindo tensão na ação de
empurrar, tracionar ou elevar”
(Tubino, 1992, p.20).
É o resultado de processos de inervação e de
utilização de substâncias energéticas na musculatura.
POTÊNCIA: O conceito de potência emitido pela
física é igual à força multiplicada pela velocidade. Para a atividade física. O
sinônimo corrente de potência é a força explosiva, ou seja, a quantidade de
trabalho feito na unidade de tempo.
VELOCIDADE: “Qualidade particular do músculo e
das coordenações neuromusculares que permite uma sucessão rápida de gestos
(...) (Tubino, 1979, p.30)”.
A velocidade pode determinar o grau
de dificuldade de um movimento, ou seja, a maioria dos exercícios se torna mais
difíceis se realizados com maior velocidade.
AGILIDADE:
“Capacidade
que se tem para mover o corpo no espaço o mais rápido possível. Muitos
estudiosos consideram a agilidade como sinônimo de velocidade de troca de
direção (...) (Tubino, 1979, p.69)”.
Pode-se dizer que a agilidade é
saber agir com velocidade, porque envolve a utilização do espaço com eficiência
e rapidez.
EQUILIBRIO:
“Qualidade
física conseguida por uma combinação de ações musculares com o propósito de
sustentar o corpo sobre uma base, contra a lei da gravidade”. (p.41). O
príncipio básico do equilíbrio é se manter em pé, depois de uma sequência por
grau de dificuldade pode-se considerar: sustentar-se sobre um pé, pular, andar
em plano de alto relevo, realizar a parada de mãos (parada de dois apoios).
RESISTÊNCIA:
É uma
qualidade que permite ao indivíduo realizar um esforço continuado, reagindo
contra a fadiga. Existem diferentes tipos de resistência, cada tipo exigirá a
utilização de uma determinada fonte de energia.
RITMO: O ritmo é o determinante do tempo
disponível para realizar um movimento, assim como entre um movimento e outro. O
ritmo determina:
•
A
velocidade do movimento, se lento, moderado, rápido, veloz, etc...
•
A
pausa entre um movimento e outro; entre uma ação e outra há um intervalo, o
ritmo encadeia o tempo de ação e de repouso, de movimento e de relaxamento.
ALONGAMENTO:
É uma
extensão do músculo além de seu comprimento em repouso, não busca aumentar o
nível de amplitude dos movimentos, ou seja, não há esforço sobre a articulação
e também não se aplica força externa.
Segundo Barbanti (1994), alongamento
é dividido em:
•
Alongamento
Dinâmico: quando se utiliza movimentos de balanceios ou oscilações de
segmentos, visando aumentar a amplitude muscular.
•
Alongamento
Estático: quando o músculo desejado permanece na sua maior extensão possível.
DESCONTRAÇÃO:
“Atividade
nula do aparelho motor voluntário” (p73, BREGOLATO 2008) É a capacidade que a pessoa tem de realxar.
Contrariamente à contração muscular, há a descontração muscular quando a
musculatura reduz sua tonicidade. A descontração muscular e mental pode ser
treinada, saber relaxar depende também do exercício. A descontração acalma a
pessoa, anulando de certa forma a agitação causada pelo exercício, deixando o
corpo e a mente em prontidão para outro tipo de atividade. O relaxamento é
oposto a agitação, precisa ser exercitado na escola porque equilibra o aluno.
SEQUÊNCIA
PEDAGÓGICA:
é a sucessão de movimentos, naturais ou construídos, visando um objetivo; a
ordem dos movimentos acontece de acordo com a importância e a dificuldade. Ela
é dividida em estágios de desenvolvimento: descoberta, intencionalidade,
análise, aperfeiçoamento, desenvolvimento. Os objetivos visados são:
•
Alunos:
experimenta, imagina, tenta, imita, descobre, constata, avalia e seleciona.
•
Professor:
orienta, incentiva, ajuda, avalia e corrige.
SEQUÊNCIA
GINÁSTICA:
é uma sequência de exercícios utilizando os fundamentos básicos da ginástica
(saltos e posturas) que somados às habilidades motoras se interligam de forma
harmoniosa.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
AYUB,
Eliana. Encontro de Ginástica Geral. S.P.
Ed. Unicamp, 1996.
BARBANTI,
V. Dicionário da Educação Física e do
Esporte. S.P. Ed. Manole, 1994.
BREGOLATO,
Roseli. Cultura Corporal da Ginástica-
V.2. S.P. Ed. Ícone.
GALLARDO,
Jorge. Educação Física: contribuições
para a formação profissional. Ijuí. Ed. Unijui, 1997.
LEGUET,
Jacques. As ações motoras em ginástica
esportiva. S.P.Ed Manole, 1987.
SOARES,
C.L. Educação Física: raízes européias e
Brasil. S.P. Campinas Autores Associados, 1994.
_____________.
Metodologia do ensino da Educação Física.
S.P. Ed. Cortez, 1998.
ZILIO,
Alduino. Treinamento Físico:
terminologia. Canoas: Ed Ulbra, 1994.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
GINÁSTICA
GERAL NA ESCOLA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
NARA REJANE CRUZ DE
OLIVEIRA* LUIZ FERNANDO COSTA DE LOURDES **
RESUMO
Este trabalho tem por
objetivo discutir a Ginástica como conteúdo da Educação Física escolar, por
meio da Ginástica geral como proposta metodológica. Tal proposta tem como
perspectiva a integração das diversas manifestações gímnicas e os outros
componentes da cultura corporal, sendo sua principal característica a ausência
da competição.
PALAVRAS-CHAVE:
ginástica – ginástica geral – educação física escolar.
INTRODUÇÃO
Ginástica no contexto
da Educação Física escolar foi historicamente construída a partir de
determinados modelos, especialmente as escolas ginásticas da Europa. O caráter
esportivizado também foi uma característica marcante. No decorrer dos anos, a
formação profissional em Educação Física enfatizou tais modelos, e consequentemente,
grande parte dos professores, no contexto da prática pedagógica escolar, ora
apresentam a ginástica baseada nestes modelos ou optam pela sua ausência,
perante a alegação de falta de equipamentos e/ou instalações adequadas,
confundindo assim, as modalidades gímnicas competitivas (artística/olímpica,
rítmica, dentre outras) com a ginástica em si, gerando desta forma, a
elitização de tal prática (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Perante estas
constatações, o objetivo deste trabalho é discutir uma possível forma de
intervenção pedagógica através da Ginástica como conteúdo da Educação Física
escolar. Acreditamos que esta possibilidade se concretize por meio da Ginástica
Geral (GG), na medida em que esta tem como perspectiva a integração das
diversas manifestações gímnicas e os outros componentes da cultura corporal,
sendo sua principal característica a ausência da competição.
A GG pode
proporcionar, além do divertimento e satisfação provocada pela própria
atividade (na medida em que busca o resgate do núcleo primordial da ginástica –
o divertimento), o desenvolvimento da criatividade, da ludicidade e da
participação, a apreensão pelos alunos das inúmeras interpretações da
ginástica, e a busca de novos significados e possibilidades de expressão
gímnica (AYOUB, 2003). As atividades são oportunidades privilegiadas, porque
são geradas criativa e espontaneamente, a partir da tomada de contato com o
outro, da percepção e reflexão sobre as pessoas e a realidade na qual estão
inseridas. Apresenta-se então dotada de um caráter de autonomia, liberdade, o
que favorece também o convívio em novos grupos, fazendo com que o indivíduo
alargue as fronteiras do seu mundo e intensifique assim suas comunicações. As
vivências no campo da GG têm a função de sociabilização, além de solidariedade
e identificação social. Assim, podemos considerá-la como elemento privilegiado
no contexto educativo.
Portanto, se for
entendida e assumida como fenômeno social e historicamente produzido pelo
homem, constitui-se como bem cultural, que deve ser apropriado pela população.
Desse prisma, buscamos o desenvolvimento de uma reflexão sobre o seu
desenvolvimento no contexto da Educação Física escolar.
No que diz respeito à
Educação Física escolar, nosso entendimento é de que a mesma constitui-se como
prática pedagógica, que trata política e pedagogicamente dos temas da cultura
corporal (jogo, dança, esporte, lutas, ginástica), visando apreender a expressão
corporal como linguagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Desta forma, pode
contribuir para a formação de indivíduos críticos e criativos e intervir de
forma significativa em sua realidade social.
A GINÁSTICA COMO
PRÁTICA PRIVILEGIADA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
O século XIX
constitui-se um importante período para a compreensão das raízes da Ginástica
moderna e da Educação Física. Entretanto, a Ginástica não é algo recente na
sociedade. Segundo Rouyer (1977), sua denominação remonta aos agrupamentos
desportivos gregos, como a arte de exercitar o corpo nu (em grego gymnos). Essa
associação entre o exercício físico e a nudez, traz o sentido do despido, do
simples, do livre, do limpo, do desprovido ou destituído de maldade, do
imparcial, do neutro, do puro (AYOUB, 2003).
A partir do início do
século XIX, a Ginástica passou a ser considerada científica, fruto das
distintas formas de se pensar os exercícios físicos em países da Europa –
Alemanha, Suécia, França e Inglaterra – surgindo assim os métodos/escolas de
ginástica ou Movimento Ginástico Europeu. Nesta perspectiva, buscou-se imprimir
um caráter de utilidade aos exercícios físicos, em que foram negadas as
práticas populares de artistas de rua, de circo, acrobatas, funâmbulos, que a
apresentavam como espetáculo, trazendo o corpo como centro de entretenimento
(SOARES, 1994, 1998, 2001).
Como expressão da
cultura, este movimento se constrói a partir das relações cotidianas, dos
divertimentos e festas populares, dos espetáculos de rua, do circo, dos
exercícios militares, bem como dos passatempos da aristocracia. Possui em seu
interior princípios de ordem e de disciplina que podem ser potencializados.
Para sua aceitação, porém, estes princípios de disciplina e ordem não são
suficientes. Ao movimento ginástico é exigido o rompimento com seu núcleo
primordial, cuja característica dominante se localiza no campo dos
divertimentos (SOARES, 1998, p. 18).
Segundo Soares (1998),
a Ginástica como prática científica é constitutiva da mentalidade burguesa,
destacando-se pelo seu caráter ordenativo, disciplinador e metódico, além do
discurso de aquisição e preservação da saúde. Ao longo do século XIX, foram
inúmeras as tentativas de estender sua prática à grande massa trabalhadora
urbana, que para os interesses do capital, tornava-se cada vez mais numerosa e
potencialmente perigosa.
De acordo com esse
autor, é na gradativa aceitação dos princípios de ordem e disciplina formulados
pelo Movimento Ginástico Europeu, bem como do afastamento de seu núcleo
primordial (o divertimento), que paulatinamente a Ginástica se afirma como
parte da educação dos indivíduos, como prática capaz de potencializar a
utilidade dos gestos e oferecer um espetáculo “controlado” e institucionalizado
dos usos do corpo, em negação aos elementos cênicos, funambulescos,
acrobáticos.
No Brasil, os métodos
ginásticos influenciaram sobremaneira a constituição da Educação Física e
estiveram presentes nos discursos político, médico e pedagógico. Soares (1994)
afirma que apesar das particularidades dos países de origem, as escolas de
ginástica, de um modo geral, possuíam características semelhantes, como
regeneração da raça, promoção da saúde (independente das condições de vida),
desenvolvimento de vontade, força, coragem, energia de viver (para servir à
pátria) e desenvolvimento da moral (intervenção nas tradições e costumes dos
povos).
Precursora da Educação
Física, a Ginástica científica se afirmou ao longo do século XIX como síntese
do pensamento científico no Ocidente europeu e integrante dos novos códigos de
civilidade, o que vai justificar sua presença no currículo escolar. Como
conclui Soares:
Herdeira de uma
tradição científica e política que privilegia a ordem e a hierarquia desde sua
denominação inicial de Ginástica, a hoje chamada Educação Física foi e é
compreendida como um importante modelo de educação corporal que integra o
discurso do poder (2001, p. 113).
É neste contexto, no
século XIX, que tem início o projeto de institucionalização da Educação Física
no Brasil (ainda chamada Ginástica), como disciplina obrigatória nas escolas,
em que os ideais eugênicos e higiênicos se faziam presentes na Educação.
Cabia à Educação
Física vinculada à Educação Escolar, o papel de contribuir para a formação dos
corpos eugênicos e higiênicos. Na prática, a Educação Física ressaltava por
meio de seus conteúdos e metodologias os assuntos relacionados à formação da
ordem, disciplina e moralização, fruto das concepções advindas dos métodos
ginásticos europeus, estes por sua vez, ancorados nos preceitos e contextos de
seus países de origem.
No contexto do projeto
higienista e de eugenização da população brasileira, a Ginástica constituiu-se
como elemento de extrema importância, na perspectiva de adestrar e alterar os
corpos produzidos por quase três séculos de colonização, conforme Oliveira
(1994).
No que diz respeito à
esportivização da Ginástica, tal processo tem sua gênese na Inglaterra. Segundo
Soares (1994), diferente dos outros países da Europa, nos quais
desenvolveram-se as principais escolas de ginástica – França, Alemanha e
Suécia, a Inglaterra deu ênfase ao desenvolvimento do desporto. Para Rouyer
(1977), isto foi devido ao grande desenvolvimento das forças produtivas neste
país que conduziu mais depressa à transformação das relações sociais. Neste
sentido, a riqueza e a liberdade das classes dirigentes permitia-lhes o ócio
marcado pela lei do dinheiro, em que apostava-se em cavalos, depois em
corredores a pé e mais tarde em semiprofissionais. O desporto constituiu-se então
como atividade de ócio da aristocracia e da alta burguesia, além de meio de
educação social de seus filhos, ao mesmo tempo em que se tornava o trabalho de
numerosos profissionais. Assim, a Inglaterra burguesa deu ao mundo o desporto
moderno institucionalizado e com regras precisas.
Desta forma, aliada à
racionalização científica e às regras do esporte moderno, a Ginástica se
transforma em um esporte de rendimento à qual poucos têm acesso. Ou seja, as expressões
gímnicas esportivizam-se e a sociedade contemporânea herda a ginástica como
prática elitizada, o que contribui paulatinamente para sua exclusão da escola.
GINÁSTICA GERAL E
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: POSSIBILIDADES DE ENCONTRO
Compreendemos a GG
como uma esfera da vida social, que, como todas as outras, influencia e é
influenciada pela sociedade. Sendo assim, não podemos falar sobre a GG isolada
das outras atividades da vida humana, pois desta forma corremos o risco de
formar conceitos parciais e simplistas.
A Europa atualmente é
o principal centro de desenvolvimento e prática da GG. Segundo Souza (1997),
este fato se confirma ao observarmos o grande número de clubes e praticantes. A
crescente popularidade desta modalidade pelo mundo pode ser averiguada pelos
festivais que são promovidos nos mais diversos países. Em alguns países é
denominada apenas de Ginástica sem o complemento Geral, a exemplo da Dinamarca
que tem no DGI (Associação Dinamarquesa de Ginástica e Esporte) sua maior
expressão nesta modalidade, em que cerca de 30% da população é associada.
É importante salientar
que as outras modalidades de Ginástica são consideradas de competição, como a
ginástica artística, a ginástica rítmica, dentre outras. Já a GG está orientada
para as questões educacionais e do lazer, para a prática sem fins competitivos,
privilegiando a demonstração.
Conforme Souza (1997),
os princípios que norteiam a GG privilegiam o estímulo à criatividade, ao
bem-estar, à união entre as pessoas e o prazer pela sua prática. Sua riqueza
está exatamente no princípio de privilegiar todas as formas de trabalho,
estilos, tendências, influenciados por uma variedade de tradições, simbolismos
e valores que cada cultura agrega. Por este motivo, ao apresentarmos uma
possível conceituação, não o fazemos no sentido de cristalizá-lo ou reduzir o
fenômeno, pois assim não compreenderíamos sua imensa possibilidade de
representação.
A GG, de acordo com o
General Gymnastics Manual (FIG, 1993) compreende as seguintes atividades:
-Ginástica e Dança:
Dança teatro, Dança Moderna, Dança Aeróbica; Ballet, Folclore, Ginástica Jazz,
Ginástica rítmica, Ginástica de Solo, Ginástica Aeróbica, Rock’n Roll,
Condicionamento Físico;
-Exercício com
aparelhos: Ginástica com aparelhos de grande porte (cavalo, paralelas, etc.),
Ginástica com aparelhos manuais (bolas, fitas, arcos, etc.), Ginástica com
aparelhos não convencionais (caixas, galões de água, bambus, dentre outros),
Tumbling, Trampolim, Rodas, Acrobacias;
-Jogos: Pequenos
Jogos, Jogos de Condicionamento Físico, Jogos Sociais, Jogos Esportivos, Jogos
de Reação.
Ayoub (2003) projeta
algumas imagens da GG, no intuito de visualizar os pilares fundamentais que a
sustentam, os quais estão ligados à concepção de GG da Federação Internacional
de Ginástica (FIG), que segundo esta autora vem influenciando as ações na área
em diversos países, inclusive no Brasil:
• Não possui
finalidade competitiva e está situada num plano diferente das modalidades
gímnicas competitivas, num plano básico, com a abertura para o divertimento, o
prazer, o simples, o diferente, para a participação de todos. Ou seja, é
irrestrita.
O principal alvo é a
pessoa que pratica, visando promover a integração das pessoas e grupos e o
desenvolvimento da ginástica com prazer e criatividade. Portanto, a ludicidade
e a expressão criativa são pontos fundamentais.
Não possui regras
rígidas preestabelecidas, pois estimula a amplitude e diversidade, abrindo um
leque de possibilidades para a prática da atividade corporal, sem distinção de
idade, gênero, número e condição física ou técnica dos praticantes, música ou
vestuário, favorecendo ampla participação e criatividade.
Os festivais se
constituem como sua principal manifestação, o que a vincula ao artístico, ao
espetáculo.
Difere-se, portanto,
das ginásticas competitivas, cujas principais características são: seletividade,
regras rígidas preestabelecidas, caminham no sentido da especialização,
comparação formal, classificatória e por pontos, visando, sobretudo, o vencer.
Ayoub (2003) aponta ainda que as diferenças entre a GG e as ginásticas
competitivas não podem ser vistas de forma rígida e estanque, pois estas
convivem interligadas na sociedade e exercem influências recíprocas.
No Brasil, existem
vários grupos de Ginástica Geral, apesar de sua prática ser pouco difundida.
Dentre eles, se destaca o Grupo Ginástico Unicamp, que tem como proposta não só
a prática da Ginástica Geral, mas também a pesquisa do tema na Educação Física
Escolar, além da sua abordagem como atividade comunitária.
A proposta do Grupo
Ginástico Unicamp – GGU (Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral da Faculdade de
Educação Física da Unicamp), tem seu enfoque nas relações pedagógicas que foram
desenvolvidas em diversas experiências no decorrer de 15 anos, dando uma nova
perspectiva de atuação ou instrumentalização para os profissionais de Educação
Física. O GGU coloca-se como um “Banco de idéias” para os professores
utilizarem-se do universo da Ginástica Geral em suas aulas como metodologia da
Educação Física Escolar e Comunitária.
Para o GGU, a
Ginástica Geral é entendida como uma manifestação da Cultura Corporal que,
reunindo as diferentes interpretações da Ginástica (Natural, Construída,
Artística, Rítmica Desportiva, Aeróbica, entre outras), busca integrá-las com
outras formas de expressão corporal (Dança, Folclore, Jogos, Teatro, Mímica...)
de forma livre e criativa, de acordo com as características do grupo social,
visando a contribuir para aumento da interação social entre os
participantes (PÉREZ GALLARDO; SOUZA,1997).
Devido às
características regionais brasileiras, encontram-se focos de conservações
culturais que revelam formas muito peculiares de exploração e adaptação ao meio
ambiente, tais manifestações culminam em diferenças culturais “contadas” no
folclore, “jogadas”, “dançadas”, etc., contendo uma riqueza plástica e
artística expressa através do movimento. A interação da GG com estas linguagens
pode incentivar os praticantes a explorarem as diversas linguagens culturais,
ampliando suas experiências e conhecimentos acerca da diversidade cultural
brasileira, por exemplo. Outras tematizações, porém, podem e devem ser
trabalhadas, permitindo a criação e a ampliação do conhecimento relativo à
ginástica associada às questões sociais.
Segundo Ayoub,
Aprender ginástica
geral na escola significa, portanto, estudar, vivenciar, conhecer, compreender,
perceber, confrontar, interpretar, problematizar, compartilhar, apreender as
inúmeras interpretações da ginástica para, com base nesse aprendizado, buscar
novos significados e criar novas possibilidades de expressão gímnica. Sob essa
ótica, podemos considerar que a ginástica geral, como conhecimento a ser
estudado na educação física escolar, representa a Ginástica. Considerando
ainda, as características fundamentais da GG, podemos afirmar que a ginástica
traz consigo a possibilidade de realizarmos uma reconstrução da ginástica na
educação física escolar numa perspectiva de “confronto” e síntese e, também,
numa perspectiva lúdica, criativa e participativa (2003, p. 87).
O princípio norteador
desta proposta, ao nosso ver, deve privilegiar a formação humana em sua
totalidade. Desse prisma, a proposta de trabalho em Ginástica Geral propõe a
educação a serviço de novos valores, manifestados e gerados na sociedade e na
vivência do lúdico na cultura, sendo os participantes agentes da história, em
busca da transformação social.
General
gymnastics at school: A methodological propositon
ABSTRACT
This study aims at
discussing gym classes as a part of school physical education, using General
Gymnastics as a methodological approach. Such an approach has the perspective
of integrating the several gymnastic manifestations to the other components of
body culture, with the lack of competition as its main feature.
KEY WORDS: gym –
general gymnastics – physical education in schools.
Gimnasia
general en la escuela: Una propuesta metodológica
RESUMEN
Este trabajo tiene por
objetivo discutir la Gimnasia como contenido de la Educación Física escolar,
por medio de la Gimnasia general como propuesta metodológica. Tal propuesta
tiene como perspectiva la integración de diversas manifestaciones gímnicas y
los otros componentes de la cultura corporal, siendo su principal
característica la ausencia de la competencia.
PALABRAS-CLAVE:
gimnasia – gimnasia general – educación física escolar.
REFERÊNCIAS
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COLETIVO DE AUTORES.
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OLIVEIRA, V. M. de.
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PÉREZ GALLARDO, J. S.,
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AYOUB, E., SOUZA, E. P. M., PÉREZ GALLARDO, J. S. (Orgs.). Coletânea de textos
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história. Campinas: Autores Associados, 2001. p.109-129.
SOUZA, E. P. M.
Ginástica geral: uma área do conhecimento da educação física. Tese de
doutorado, Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas.
Campinas, SP: 1997.
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